"Há sempre uma mulher à sua espera, com os olhos cheios de carinho e as mãos cheias de perdão."
Vinícius de Morais.

domingo, 28 de novembro de 2010

Teu corpo




Tua carne trêmula me amansa mais que um peito em brasas
Tua pele lisa me faz disfarçar as entranhas do coração
Porque me encontro em ti, no seio da tua carne
Assim como me encontro a mim na carne do teu seio
Que anseia pelo meu desperdão
Pela minha ânsia e pelo meu cheiro de corpo

Na pálida e tácita dispersão da noite
A consciência atravessa seu auge e observa maliciosa
As flores do campo desses meses de novembro.

O que seria da noite sem a rocha vulcânica que encende teus cabelos,
Que matura teus seios e que exala o sabor de vento das águas de verão,
Afinal, o que seria da noite sem o canto de teus olhos azuis de calmaria?

Notícias do Rio de Janeiro


“Tem havido poucos crimes passionais em comparação com o grande número de paixões à solta.”
Vinícius de Moraes

Os pássaros cantam e o sol arde
As crianças brincam à noite nas ruas
Dos subúrbios da cidade.
As flores não deixam de abrir
O Cristo continua Redentor
As bocas não deixam de sorrir
E ainda existe por aí o amor.

Os casais continuam apaixonados
A saudade continua a matar
E os tenores a cantar
Os teatros ainda lotados

Os insetos continuam a traçar
Seus voos errantes a caminho da morte
E os distraídos ainda tropeçam
E os jardins continuam floridos

O céu tem se dado bem com as estrelas
E as noites continuam quentes
O que se vê pela cidade é alegria
Como sempre. E tristeza, como sempre.

É o caos organizado do dia-a-dia
O que se vê. Como sempre.
Os corações continuam amando
E as mulheres seguem se apaixonando

Como sempre, a cidade está de pé cedo
Porque nunca dorme
E os lençóis nunca vazios.
Como sempre o Rio vibra
E canta, e ri, e chora, e dança.

Os papagaios continuam a currupaquear
E os peixes não sabem o que se passa
O ar da cidade continua fino
E as mulheres continuam lindas
As bocas ainda riem e beijam
E a carne ainda tremente nos diz
Que o amor não diminuiu

O Rio ainda de Janeiro continua a intuir
O que a serenidade do casal de pardais
Não me deixa mentir
Apesar das tolices,
A cidade permanece em paz.

A Mulher Pátria





A minha pátria se faz mulher para me apaixonar
Ainda mais pelos seus cabelos não sei que cor
E seu sorriso de Brasil. No coração do meu peito
Ah, pátria minha, tão promíscua e tão virgem

Ah, pátria nossa, futuro da nação,
nas tormentas
De tua calmaria natural.
Grandiosa pátria a pátria minha,
Com ares de felicidade e beleza
Em teu seio, mais garrida.

Vontade de fazer amor com a minha pátria
De preparar-lhe um jantar
De oferecer-lhe um vinho
E de entrar em seu âmago como a uma mulher.
Vontade de despir minha pátria,
De vê-la nua,
Em toda sua natureza, esplendor e imperfeição.
Pátria minha terra de todas as mulheres
Pátria minha terra de sonhos e fantasias e alegrias
E terra de todas as mulheres.

Vontade de dormir com a minha pátria errante
De carícia e de inverdades
O sonho dos amantes,
O sonho da eternidade.

Estou apaixonado pela menina pátria
Que se reveste de um esplendor malicioso
Que encanta e desencanta os animais humanos
Vontade de despir-lhe de seu manto mentiroso
De incapacidade. E de amar-lhe como a uma mulher.
Pátria. Mãe de todas as cores. Vontade de fecundar
A terra da minha pátria e dar origem a todas as civilizações.

Tadinha da minha pátria amada. Tão pequenina
Dentro do infinito. Povoada por mestres e por incultos
Tão cara minha pátria. Terra de todos os povos.
Tão singela, tão humilde, tão mulher.
Tão bela e tão amada, a pátria Terra.

Amor vil (u)




“Vil desejo, saciado por inúmeros corpos de amantes sem rosto.”
BB


Que espírito habita na carne do teu rosto?
Que suspiros o breu da manhã permite identificar
Se na cavalheirice de qualquer dia o terno transforma-se
Em vil? Que tenro calor afaga os joelhos doloridos
Se os rostos são invisíveis?

Mas como podem ser inidentificáveis se a liquidez
Da alma viva espanta as vicissitudes da solidão?

O que aconteceria se a tristeza falasse mais alto que a alegria?
O que seria do dia?
E se crerem na solidão mais que na distância a se percorrer?
O que seria da esperança?
Como pode ser vil se a paixão mata os germes da intolerância?
E se o amor em longo prazo é servil?
O que aconteceria se a ilusão vencesse a realidade e
Os amantem acreditassem na tristeza de amar?
O que seria da alegria da poetisa?
Ela só poeta porque não grita a tristeza

Mas será que pode prevalecer a infelicidade,
Falando mais alto que o mar?
Pois trate de se cuidar, arrume dois dentes de alho,
Porque vem a tristeza querendo gritar
Prepare o protetor sonoro e o banho de arruda,
Se bem que, acho que a alegria do desejo fica.
Como poderia a tristeza falar mais alto, se é ela muda?


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Bússola do Tempo


Que canto cantam os pássaros do norte?
Como podemos viver tanto tempo sem pensar
Nas vidas que vivem em solidão no pesar do tempo
Que vivem sobrevivendo? Como podemos sobreviver sem viver
Na claridade escura do breu dos ventos?

Que canto cantam os pássaros do leste?
Como pode alguém viver em liberdade
Sem admirar o sol que se põe em dezembro
Na curvatura da sabedoria celeste?

Que canto cantam os pássaros do oeste?
Se em guarda se fala de alguém que vem
Da cidade de anjos que coexiste ao tempo?
Como, senhores, podem os homens viver sem
A sabedoria do canto cor de sexo dos pássaros?

Que canto cantam afinal os pássaros do sul?
Em sintonia nítida com os caprichos da galáxia
Em seu clamor com o cheiro da cor azul?
Viva meus caros pássaros!
Vivam por seus homens que pouco olham as estrelas
Voem para que possa passar o dia dos pretensos sábios
Que pouco pensam em vossa liberdade,
Que vivem sobrevivendo
E se distraem com o tráfego da cidade
Sem pensar no ar, no céu, nas aves.

A Ilusão Chamada Tristeza



Para que chorar menina dos olhos
Se a vida passa carinhosa pelos amantes?
Para que sofrer se o amor está solto por aí
Por aqui, por entre os condomínios fechados
Do Rio de Janeiro, por entre as ruas de Icaraí?
Porque achar que errado é viver se a vida não
Nos dá a liberdade de fazer outra coisa?

É menina, não se engane. Não pense que a alegria
Se espalha feito bruma pelos cabelos da solidão
A felicidade habita onde menos se espera,
No coração dos casais que brigam e não sabem porquê.

A felicidade, já dizia o Buda, é um estado mental,
Um estado de espírito que independe da pessoa alheia
Estaria certo o Buda? A felicidade encontrar-se-á no peito só?
Na mente em si? Como pode a felicidade fora da veia
Da pessoa outra amada? Só a companhia desfaz o nó
Do peito dos amargurados. Não se engane menina,
A tristeza é uma ilusão, já dizia o Buda.
Tristeza é um nome feio que os arautos da solidão
Inventaram para mentira.
Não se engane menina dos olhos dourados,
Não pense que a vida pode ser feita de infelicidade
Porque a infelicidade não passa de um pouco menos
Que nada. O único cimento para se construir o castelo da vida
É da marca amor. E o amor se ama a alguém
Ainda que seja um alguém que se ame sem saber
Mas o que é a sabedoria senão o conhecimento da vida?

Não se iluda menina. Não deixe a tristeza te enganar
Porque tristeza é sinônimo de ilusão.



sábado, 20 de novembro de 2010

Bilateral



Duas estrelas azuis me olham da imensidão da tarde
Que arde. Como duas esferas de luz a contemplar o dia
Quantas toneladas de amor teu corpo suportará em verdade?
Quantas estrelas haverão de brilhar para mim em alegria?

Em teus seios que crescem para o sol repouso meu corpo
Como deposito meu sangue em teu ventre alinhado à constelação
de touro, em nítida sintonia com tuas estrelas oculares azuis
e imorais, no silêncio ensurdecedor que sucede o espasmo. 

Em teu colo hei de morrer a petite mort da plenitude
Em teu coração hei de beber o carinho que te dedico
Agora e pelo momento que estamos em virtude

Sem que peças ou que implores, te escravizo como sorte
De um claro amor profundo e azul. No momento em que
vivemos uma mesma vida e morremos uma mesma morte