"Há sempre uma mulher à sua espera, com os olhos cheios de carinho e as mãos cheias de perdão."
Vinícius de Morais.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Menina





Teus olhos errantes me dizem qualquer coisa sem sentido
Tua santidade depravada me espanta
Mas encanta, enquanto cantas o canto das sereias virgens
Dos mares eternos. E cantas, e cantas, e cantas.

Cantas como quem morresse ou quem amasse
Cantas como quem desperta da tumba das memórias.
Que afagas como a um cão despido de lembranças.
E agarras as mãos dos vivos como se soubesses a arte
De amar, de cantar, de sofrer, de chorar
Todos os dias
Por alguém que é o que não foi um dia
Que foste o que não podes ser
Um dia.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Fórmula da Eternidade



Eureka!!
Eis que em um livro de poesia descubro o elemento
Fundamental, que transcende a vida
E que na calada dos peitos
faz dos amantes imortais
E das paixões fugazes o universo
Inexorável de aurora

Eis que descubro como viver eternamente
Transpassando a alegria e a tristeza do dia
Porque descubro o elemento que tantas mentes
Sábias já conheciam, mas que ainda permanecia oculta
[ aos incautos

Eis que como o sol a verdade óbvia se revelou
[ Aos olhos do tolo
E o elemento que perpassa o inevitável amanhecer
                                                                                  [ Me encarou
Como quem desafia
E me esnobou como quem ignora, mas ama

Descobri enfim!
Como quem distraído descobre que está vivo!
O elemento que permanece além da vida,
Mais perpétuo que o jazigo
E mais comum que o orgasmo.
Mais frequente do que fazem parecer os jornais
E mais límpido que a transparência do filósofo!

Eis que de todo me veio à mente
Como quem ri e como quem enobrece
                                                           De repente.
A fórmula da eternidade!
Que agora revelo aos poucos no mundo
que como eu ainda não sabiam
A verdade inelutável
Inescapável,
intransmutável
No coração do Deus de Roma.

Revelo agora ao mundo inteiro
Ainda que para os sábios não seja novidade
Qual é a fórmula que permite ao homem
Viver mais que sua longevidade

Fórmula que suspende a angústia do poeta
E que supera os caprichos do desejo.
Fórmula que se revela de tal sorte
Que expande a liberdade do ensejo
E que liga a vida à morte

Engrandece o coração
E promove a fraternidade
Revelo agora ao mundo são
A fórmula da eternidade:







  


VIDAMORTE












domingo, 28 de novembro de 2010

Teu corpo




Tua carne trêmula me amansa mais que um peito em brasas
Tua pele lisa me faz disfarçar as entranhas do coração
Porque me encontro em ti, no seio da tua carne
Assim como me encontro a mim na carne do teu seio
Que anseia pelo meu desperdão
Pela minha ânsia e pelo meu cheiro de corpo

Na pálida e tácita dispersão da noite
A consciência atravessa seu auge e observa maliciosa
As flores do campo desses meses de novembro.

O que seria da noite sem a rocha vulcânica que encende teus cabelos,
Que matura teus seios e que exala o sabor de vento das águas de verão,
Afinal, o que seria da noite sem o canto de teus olhos azuis de calmaria?

Notícias do Rio de Janeiro


“Tem havido poucos crimes passionais em comparação com o grande número de paixões à solta.”
Vinícius de Moraes

Os pássaros cantam e o sol arde
As crianças brincam à noite nas ruas
Dos subúrbios da cidade.
As flores não deixam de abrir
O Cristo continua Redentor
As bocas não deixam de sorrir
E ainda existe por aí o amor.

Os casais continuam apaixonados
A saudade continua a matar
E os tenores a cantar
Os teatros ainda lotados

Os insetos continuam a traçar
Seus voos errantes a caminho da morte
E os distraídos ainda tropeçam
E os jardins continuam floridos

O céu tem se dado bem com as estrelas
E as noites continuam quentes
O que se vê pela cidade é alegria
Como sempre. E tristeza, como sempre.

É o caos organizado do dia-a-dia
O que se vê. Como sempre.
Os corações continuam amando
E as mulheres seguem se apaixonando

Como sempre, a cidade está de pé cedo
Porque nunca dorme
E os lençóis nunca vazios.
Como sempre o Rio vibra
E canta, e ri, e chora, e dança.

Os papagaios continuam a currupaquear
E os peixes não sabem o que se passa
O ar da cidade continua fino
E as mulheres continuam lindas
As bocas ainda riem e beijam
E a carne ainda tremente nos diz
Que o amor não diminuiu

O Rio ainda de Janeiro continua a intuir
O que a serenidade do casal de pardais
Não me deixa mentir
Apesar das tolices,
A cidade permanece em paz.

A Mulher Pátria





A minha pátria se faz mulher para me apaixonar
Ainda mais pelos seus cabelos não sei que cor
E seu sorriso de Brasil. No coração do meu peito
Ah, pátria minha, tão promíscua e tão virgem

Ah, pátria nossa, futuro da nação,
nas tormentas
De tua calmaria natural.
Grandiosa pátria a pátria minha,
Com ares de felicidade e beleza
Em teu seio, mais garrida.

Vontade de fazer amor com a minha pátria
De preparar-lhe um jantar
De oferecer-lhe um vinho
E de entrar em seu âmago como a uma mulher.
Vontade de despir minha pátria,
De vê-la nua,
Em toda sua natureza, esplendor e imperfeição.
Pátria minha terra de todas as mulheres
Pátria minha terra de sonhos e fantasias e alegrias
E terra de todas as mulheres.

Vontade de dormir com a minha pátria errante
De carícia e de inverdades
O sonho dos amantes,
O sonho da eternidade.

Estou apaixonado pela menina pátria
Que se reveste de um esplendor malicioso
Que encanta e desencanta os animais humanos
Vontade de despir-lhe de seu manto mentiroso
De incapacidade. E de amar-lhe como a uma mulher.
Pátria. Mãe de todas as cores. Vontade de fecundar
A terra da minha pátria e dar origem a todas as civilizações.

Tadinha da minha pátria amada. Tão pequenina
Dentro do infinito. Povoada por mestres e por incultos
Tão cara minha pátria. Terra de todos os povos.
Tão singela, tão humilde, tão mulher.
Tão bela e tão amada, a pátria Terra.

Amor vil (u)




“Vil desejo, saciado por inúmeros corpos de amantes sem rosto.”
BB


Que espírito habita na carne do teu rosto?
Que suspiros o breu da manhã permite identificar
Se na cavalheirice de qualquer dia o terno transforma-se
Em vil? Que tenro calor afaga os joelhos doloridos
Se os rostos são invisíveis?

Mas como podem ser inidentificáveis se a liquidez
Da alma viva espanta as vicissitudes da solidão?

O que aconteceria se a tristeza falasse mais alto que a alegria?
O que seria do dia?
E se crerem na solidão mais que na distância a se percorrer?
O que seria da esperança?
Como pode ser vil se a paixão mata os germes da intolerância?
E se o amor em longo prazo é servil?
O que aconteceria se a ilusão vencesse a realidade e
Os amantem acreditassem na tristeza de amar?
O que seria da alegria da poetisa?
Ela só poeta porque não grita a tristeza

Mas será que pode prevalecer a infelicidade,
Falando mais alto que o mar?
Pois trate de se cuidar, arrume dois dentes de alho,
Porque vem a tristeza querendo gritar
Prepare o protetor sonoro e o banho de arruda,
Se bem que, acho que a alegria do desejo fica.
Como poderia a tristeza falar mais alto, se é ela muda?